domingo, 4 de maio de 2014

O Jogo do Esconde - Esconde

O Jogo do Esconde - Esconde


“Contam que uma vez reuniram-se todos os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da terra”.

Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, lhes propôs:

Vamos brincar de esconde-esconde?

A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE sem poder conter-se perguntou:

Esconde-esconde? Como é isso?

É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo.

O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA. A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou por convencer a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessava por nada.

Mas nem todos quiseram participar; a VERDADE preferiu não esconder-se. “Para quê, se no final todos me encontram?” – Pensou.

A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a idéia não tivesse sido dela) e a COVARDIA preferiu não arriscar-se.

Um, dois, três, quatro... - Começou a contar a LOUCURA.

A primeira a esconder-se foi a PRESSA que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho.

A subiu ao céu e A INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.

A GENEROSIDADE quase não consegue esconder-se pois cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para alguns de seus amigos: se era um lago cristalino ideal para a BELEZA. Se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ se era o vôo de uma borboleta o melhor para a VOLÚPIA. Se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim acabou escondendo-se em um raio de sol.

O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cômodo, mas apenas para ele.

A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade escondeu-se atrás do arco-íris.) e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões.

O ESQUECIMENTO,... Não recordo onde se escondeu, mas isso não é o mais importante.

Quando a LOUCURA estava lá pelo 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou uma rosa e, carinhosamente decidiu-se esconder-se entre suas pétalas.

Um milhão! – terminou de contar a LOUCURA e começou a busca.

A primeira a aparecer foi a PRESSA apenas à três passos de uma pedra.

Depois, escutou-se a discutindo com DEUS no céu sobre zoologia.

Sentiu vibrar a PAIXÃO e O DESEJO nos vulcões.

Em um descuido encontrou a INVEJA e claro, pôde deduzir onde estava o TRIUNFO.

O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo. Ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.

De tanto caminhar, sentiu sede e ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA.

A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir-se de que lado esconder-se.

E assim foi encontrado a todos: o TALENTO entre a erva fresca, a ANGÚSTIA em uma cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO, que já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde.

Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local.

A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas. Quando estava à ponto de dar-se por vencida encontrou um roseiral.

Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito.

Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos.

A LOUCURA não sabia o que fazer para desculpar-se.

Chorou, rezou, implorou, e até prometeu ser seu guia.

Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na terra:

“O AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.”



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