sexta-feira, 1 de maio de 2015

JUVENTUDES, SEXUALIDADE E RELAÇÕES DE GÊNERO

Juventude, sexualidade e Relações de Gêneros

Gênero: A palavra gênero designa as várias possibilidades construtivas dentro de uma cultura especifica de nos reconhecermos como homens e mulheres. Assim, ser homem e mulher pode variar sensivelmente dependendo da época, do lugar e ainda dos valores sociais que norteiam as interações dos indivíduos em dada sociedade.   
A condição juvenil também se expressa numa perspectiva de gênero, visto que os meninos e as meninas são interpelados a se afirmar como homens e mulheres ao incorporar atributos considerados masculinos ou femininos na cultura em que vivem.
É vivido no contexto social situações que nos impõem uma separação de gêneros que nos leva ao questionamento:
Por que os homens devem ter pelos e mulheres não? Por que apenas as mães são agraciadas por um programa de gestação? Homens não têm nenhuma participação na fecundação e cuidado com a criança? Por que as mães são (os) usuários do SUS? Sendo mulheres usuárias, por que afirmar que são usuários? E por que a Barbi nessa versão é fada, esta de cor rosa com varinha de condão e minissaia? Que padrão de feminilidade a gente está veiculando quando dá de presente essa boneca e apresenta esse modelo de mulher para as meninas?

Chama nossa atenção o modo como esse tipo de mensagem, que força determinados entendimentos sobre ser homem e o ser mulher, muitas vezes passa despercebido para a maioria das pessoas. Muitas pessoas vêem essas imagens e nem percebem que estão sendo educadas através delas sobre o que se espera em uma cultura sobre o ser homem e o ser mulher.

Ao longo da Historia, diferentes comportamentos e posturas foram tidos como adequados ou esperados de homens e mulheres. Algumas justificativas para essas expectativas se baseiam exclusivamente em questões biológicas. Por exemplo, como quem tem útero é que gera uma criança, já foi dito que a responsabilidade com seu cuidado seriam exclusivamente da mulher. Porém, temos noticias de culturas em que os homens cuidam das crianças recém – nascidas, enquanto mulheres fazem outras atividades, Contemporaneamente, cada vez mais tem sido afirmado o desejo e capacidade de homens de exercerem atividades ao cuidado e ao afeto.

Diferenças e desigualdades: Discutir relações de gênero não se reduz ao biológico; mas é pensar e questionar as relações de poder. Nossa sociedade costuma produzir discursos e situações que hierarquizam diferenças, transformando essas diferenças sem desigualdade. Você já pensou nisso? Somos todos diferentes e isso é fato. Porém, há uma construção muitas vezes invisível que determina que um pólo dessa diferença seja bom e o outro seja ruim.

Conceituando e problematizando: Sexo, Gênero, Sexualidade:

Exemplificando uma distinção entre sexo e gênero: quando uma pessoa grávida faz ultrassom e o medico fala “é uma menina”, em que ele está se baseando? Ele está se baseando em uma característica biológica que é possível perceber no exame. Essa característica biológica é o sexo. A família desta criança vai pra casa e começa a comprar o enxoval com as cores rosa, lilás e por ai adiante. Neste momento, em que se associam cores e padrões ao sexo biologicamente dado, estamos falando de uma questão cultural e social, ou seja, de relações de gênero. Pode–se dizer, de maneira simplificada, que o sexo é biológico e o gênero é cultural e social. Tratando-se portanto, de duas coisas distintas e não apenas de uma só, porém intimamente interligadas. Existem diferentes padrões associados a ser homem e mulher, esses padrões culturais  hierarquizados em uma escala em que se linearizam características masculinas e femininas em que um é o espelho negativo do outro.
Ao construir este espelho de opostos das características de homens e mulheres, se cria uma polaridade em que o prestigio e o poder são associados ao masculino. Isso é o sexismo. O sexismo se baseia no binarismo de gênero, a partir do qual se estabelecem dois pólos nos quais se hierarquizam características opostas: atribuindo-se poder e prestigio a um dos pólos, enquanto ao outro pólo se confere características tradicionais desvalorizadas.
Assim, espera-se que mulheres dóceis e maternas sirvam a homens viris e arrojados: esposas aos seus maridos, filhas aos pais, namoradas aos seus namorados, empregados aos seus patrões.
Muita coisa já mudou graças à luta de muitas mulheres que se engajaram nos movimentos sociais, especialmente o movimento feminista. Entretanto, ainda há muito a ser feito. Se vocês observarem a relação entre seus jovens Alunos e alunas vão perceber o sexismo aparecendo e vão observar como o binarismo de gênero é perpetuo.
Abordando a sexualidade, espera-se que uma menina ensinada a ser dócil só se apaixone por meninos. Há na nossa cultura uma expectativa de que aconteça uma correspondência entre sexo-gênero- desejo. Entretanto, isso não acontece de forma linear. Existem várias pessoas que se posicionam de outras formas nessa linha que liga o sexo ao gênero e ao desejo.
  
É preciso refletir que o sexo biológico de uma pessoa não necessariamente vai definir como ela se posiciona socialmente em relação ao gênero.

A expectativa social é que quem tem pênis deva se reconhecer como homem e direcionar os seus afetos para uma mulher. Porém existem pessoas que se reconhecem de maneiras distintas.

Existe mulher que gosta de outra mulher, com uma orientação sexual homossexual. Nosso desejo sexual e nossos afetos podem ser mobilizados por pessoas de outro sexo, do mesmo sexo ou dos dois sexos. Dependendo de como o nosso desejo se mobiliza dizemos que somos heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. A sociedade costuma legitimar apenas as relações heterossexuais, porém, cada vez mais tem sido possível enxergar outras possibilidades no campo da sexualidade com menos preconceito.

Homofobia, Sexismo e Violência nas Escolas:


Tudo que foi abordado neste texto tem um impacto direto sobre as praticas na escola.
Professores desejam um padrão de estudante. Querem que todos aprendam do mesmo jeito e ao mesmo tempo, querem que todos se comportem da mesma maneira, querem um formato único de aluno. Porém, essa expectativa nega algo que é inerente a condição humana: a diferença.
Entender a diferença como algo do humano reposiciona atitudes. Sai do discurso de “tolerância” ou “respeito” para o entendimento que a diferença constitui a realidade. Dessa forma as intervenções partem de um pressuposto: existe uma diferença a ser respeitada por alguém que está em um outro lado, o lado dos iguais.
Se nossa sociedade considerasse a diferença como um direito de todos, não seria preciso se criar estratégias de proteção ou campanhas educativas para respeitar aqueles grupos que têm menos privilegio social e são considerados “os diferentes”. A escola pode contribuir no processo de educação para o direito a diferença.
Tratar dessa questão é um desafio para a escola que muitas vezes crê que os discursos do respeito e da tolerância vão resolver a questão.
Porém, apenas discutir o respeito e tolerância, sem ações concretas de proteção que os materializem, não são suficientes. Há demandas concretas de proteção e inclusão a serem feitas. Além disso, é preciso que a escola promova a diferença como um direito como um fato constituído da realidade.
A escola não pode lavar as mãos frente ao sexismo e à homofobia. É preciso desnaturalizar  as desigualdades de gênero e combater a heteronormatividade.
 Muitos professores (as) têm receio de se engajar nessa luta por suas convicções pessoais. É necessário, entender esse engajamento como parte da profissão de educadores e levar em consideração que a omissão da escola e a ausência  dessa temática no currículo podem vir a trazer conseqüências danosas algumas delas até irreversíveis.

Fonte: Juventude, Sexualidade e Relação de Gênero – Anna Cláudia e Paulo Henrique.