quarta-feira, 11 de março de 2015

EXCLUSÃO / INCLUSÃO NA VIDA E OBRA DE J.L. MORENO



“O conceito de Encontro, um dos principais eixos da filosofia Moreniana, poderia também ser definido como a possibilidade de estar totalmente incluído no outro ou no outro lado da relação”.

A luta pela inclusão social é marcada na vida de Moreno, o inspirando a alguns conceitos teóricos e procedimentos técnicos do Sócio- Psicodrama.

Entre as ações realizadas por Moreno pela Inclusão Social destacamos:

>> Casa do Encontro e Religião do Encontro:

Nos anos anteriores a I Guerra Mundial, a Áustria vivia um período de instabilidade política e econômica, que gerou um enorme número de pessoas chegando a Viena em busca de melhores condições de vida. O objetivo de Moreno e seus amigos era dar abrigo e facilitar a obtenção de documentos e vistos de trabalho para essas pessoas. Após o jantar coordenavam reuniões nas quais os problemas eram levantados e os ressentimentos desfeitos. Depois disso cantavam e dançavam.
“Participar desses encontros era uma experiência religiosa, algo muito alegre...” (Moreno, 1997, p.57)
 “Usando os métodos da sociometria, ainda que em forma muito primitiva , transferi famílias de lugar, na base de suas afinidades mútuas. Assim o trabalho básico pelo qual a comunidade estava organizada foi mudado para melhor. Minha teoria foi apoiada pelo fato de que, quando as pessoas puderem viver com aquelas por quem estavam positivamente atraídas, tendiam a ser cooperativas entre si e os sinais de desajustamento diminuíram tanto em número como em intensidade” (p.81)
Essas reuniões foram os modelos dos grupos de encontro que se espalharam mais tarde pelo mundo. Em seguida Moreno estendeu este método de terapia a um dos grupos mais problemáticos da sociedade: o das prostitutas. Assim elas puderam ajudar-se mutuamente. Conseguiram advogados para defendê-las e médicos para as tratar.

>> Meninas infratoras da Escola para Educação de Moças do Estado de Nova York:

Moreno estuda 505 moças com idade entre 12 e 18 anos, a partir dos resultados do teste sociométrico, uma unidade social composta por 05 jovens, Elsa chama atenção de Moreno, por apresentar uma posição afetiva de grave exclusão social. As quatro meninas escolhidas positivamente por Elsa em sua própria casa (a comunidade era dividida em 16 casas de moradia),rejeitavam – na, assim como outras 27 colegas, 12 de sua própria casa e 15 de fora. Moreno estuda os motivos das escolhas de Elsa e das outras envolvidas, trabalha para aumentar o volume inicial de seus contactos na comunidade, aumentando suas possibilidades relacionais: lança mão de procedimentos de role-playing e o teste de espontaneidade, com o objetivo de facilitar a fluência espontânea e o aumento do coeficiente télico da rede relacional em questão. Compreende-se então que a exclusão de Elsa, assim como suas atitudes trasgressoras (mentiras, roubos, etc), não decorrem somente de suas intrínsecas dificuldades relacionais, mas também da forma como a dinâmica relacional da sua moradia interage com ela. Elsa é sistematicamente marginalizada e desamparada pelo grupo. A estabilidade emocional do indivíduo está relacionada ao seu status sociométrico grupal. Os membros isolados e periféricos seriam mais suscetíveis de adoecer.
Finalmente, Elsa, excluída da casa 08, consegue inclusão na casa 13.

>>Incluindo a Loucura:


“Caso Mary”
Oficialmente denominado Tratamento psicodramático de uma paranóia, ele realiza no sentido de re-incluir socialmente sua paciente. Durante 51 sessões realizadas no decorrer de 10 meses, Moreno trata Mary, uma jovem de 23 anos adoecera há 03. Desenvolveu um delírio em relação a um homem, John, que supostamente vira em uma festa de Natal. Passa a procurá-lo de maneira obcecada e descontrolada pelas ruas e cidades. Seu comportamento bizarro chama a atenção da polícia que a  conduz a um hospital psiquiátrico.
A partir de entrevista com a família, Moreno estrutura uma cuidadosa estratégica terapêutica que obedece a três fases: realização, substituição e análise do delírio.
A família é orientada para mudar de comportamento em relação a Mary e aceitar a realidade da psicose participando da busca de Jonh. Moreno expande o contexto dramático para a clínica e para a vida, recebendo-a e comunicando que tem um telegrama de Jonh para ela. O telegrama comunica que ele esta se apresentado a uma junta de alistamento militar, mas que ele encontrará com ela em dois dias William, um ego auxiliar profissional, também é apresentado como sendo um amigo de John. Há uma “troca” de correspondência entre Mary e John preparada pela equipe terapêutica. A partir deste contexto é realizada várias cenas até que após vá estágios do processo terapêutico, Mary é informada que Jonh faleceu no front. Mary tem uma crise, permanece inaccessível durante algum tempo elaborando seu luto. Seguem-se algumas sessões em que através da técnica do espelho pode ver-se representada por um duplo. O mundo transferencial vai sendo substituído, pouco a pouco, pelo mundo télico. Começa a fazer a distinção entre os médicos e enfermeiros (egos auxiliares) do mundo real com os personagens que eles desempenham no cenário psicodramático. Em uma dramatização em que o terapeuta contracena com suas irmãs a verdade é revelada: John nunca existiu salvo na imaginação da paciente. Mary salta da platéia para o palco tentando agredir o médico. Passado o ímpeto agressivo, pede desculpas e se sente preparada para prosseguir o trabalho com cenas baseadas na diluição de seus delírios e alucinações. Quinze anos depois Mary continua a conviver com suas duas dramatis personae, mas uma não interfere na outra. Encontrou um companheiro que complementa essa dualidade. Às vezes, conversa com seus personagens fictícios, porém, se alguém se aproxima, interrompe o diálogo interior e explica que acabou de ter, em pensamento, uma conversa com alguém. Realiza bem o caminho entre fantasia e realidade. Esta vida dupla não a impede de desempenhar os papéis de
dona de casa, mãe (seu filho chama-se John) e esposa. Suas tendências anteriores ao isolamento e a inadequação, doentias, apresentam agora um aspecto normal. Questionada por Moreno pelo fato de não tê-lo visitado, responde que não é necessário, pois “você se tornou uma parte de mim mesma e eu converso com você em sua ausência”. O eu psicótico foi re-incluído aos outros “eus parciais”. Segundo Moreno (1974):

 >> Assembléia da Fundação da IAGP ( Internacional Association of Group Pschotherapy):

Em Agosto de 1973, no Grand Hotel Dolder, em Zurich, nove meses antes de sua morte, Moreno concretiza seu último ato de inclusão. Preside a assembléia de fundação da IAGP (International Association of Group Psychotherapy), instituição que promove a inclusão de todos os terapeutas de grupo do mundo, sem distinção de linhas ou escolas. Lá, estão reunidos psicodramatistas, grupoanalistas, gestaltistas, psiquiatras, psicólogos, pedagogos, religiosos, enfim, todos aqueles
que se dedicam ao trabalho com grupos. Grete Leutz (2004), sua amiga e seguidora, descreve:
“Moreno sitting at the head of a long table, presided the assembly: at least twelve persons sat by his side. Facing the afternoon sun, he did not speak much, but smiling benevolently, he was very present and appeared satisfied”. (p. 164)
Moreno (1973) escreve então uma pequena nota dizendo que realizara “one of the major goals I have been trying to attain since 1951” (p. 131). Ele manifestava a sensação de missão cumprida. Seu sorriso, presença e satisfação, tão poeticamente descritos por Grete Leutz, representaram seu adeus à nossa comunidade.

Fonte:

Apostila: Inclusão, Celebrando as Diferenças / Prof(a) Valéria Vilela

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