quinta-feira, 19 de março de 2015

O JOGO DRAMÁTICO NO PROCESSO DE SELEÇÃO E AVALIAÇÃO

Seleção, Avaliação e o Jogo Dramático:

A eficácia do Jogo Dramático na seleção é obtida pelo fato de o individuo estar simplesmente jogando, o que já elimina a possibilidade de a situação torna-se fonte de angústia ou ansiedade para ele, pois o próprio jogo cria uma atmosfera permissiva, que dá condições ao aparecimento de um comportamento espontâneo e criativo no individuo, entendido por “conduta em campo relaxado”.
As percepções geradas são essenciais para obter e compreender as dimensões de comportamento e conferir maior precisão e credibilidade aos processos de avaliação.
Na seleção é necessário lidar com um paradoxo: ao mesmo tempo em que o jogo demanda espontaneidade por parte dos jogadores, um jogar ativo e voluntário, cada candidato deve mobilizar-se em direção as suas metas, de modo a aprender, a criar, a crescer e demonstrar suas variantes de atuação, no aqui e agora, com uma “espontaneidade” que muitas vezes pode ser não-manifestada. Aquecimentos poderão amenizar esta situação.
Outro paradoxo também vivido no ambiente de trabalho: espera-se que as pessoas selecionadas tenham o perfil acima descrito, mais na maioria das organizações tais características não podem ser aplicadas na prática, devido tanto à natureza do negócio quanto ao estilo de gestão.
Nesse aspecto, o selecionador poderá criar condições para que demandante evite um erro fatal de exigir possibilidades dos profissionais que jamais serão experimentadas; essa falta de integração entre o discurso e a prática dos empresários tem gerado frustração recíproca entre as partes, sem contar os enormes prejuízos financeiros advindos de uma seleção ineficaz.
Das percepções obtidas no Jogo Dramático, associadas às advindas de outros instrumentos utilizados ao longo do processo seletivo, pode-se obter uma hipótese conclusiva que sinalize as possibilidades de reações comportamentais e atitudinais daqueles indivíduos nas situações do dia-a-dia empresarial face ao contexto preestabelecido.
Nessa fase é importante fornecer um parecer conclusivo a respeito dos profissionais envolvidos, visando a ampliar os acertos nas contratações.
Operacionalmente é vital que os participantes saibam de todos os objetivos propostos nas etapas e que sejam monitorados em todas as fases quanto aos resultados obtidos. O resultado final deverá ser informado tanto para o escolhido como para os demais participantes, pois todos eles, cada qual a seu modo e seu tanto, poderão criar mecanismo de melhorias de performance e avaliar se o processo lhes propiciou crescimento e autoconhecimento.
Conclui-se que no Jogo Dramático existem regras especificas, desempenho dos papeis e exploração de características e competências demonstradas pelos participantes, visto que neste contexto, a ação do Jogo esta diretamente ligada aos objetivos da avaliação. É “jogo”, porque promove o lúdico e a espontaneidade; é “dramático”, pois trabalha os conflitos através da ação. O seu uso na seleção fica restrito às características e emoções ligadas ao papel profissional e às suas inter-relações, com processamentos mais pontuais, que também tem por vocação contribuir para o crescimento e a aprendizagem do individuo e do grupo, de modo a permitir um ambiente saudável dentro das dinâmicas grupais.


Fonte: Beatriz Flecha, Pontes do Psicodrama. Belo Horizonte: 2007.

quarta-feira, 18 de março de 2015

PSICODRAMA EM SELEÇÃO E AVALIAÇÃO - O DESAFIO DE AVALIAR PESSOAS

Psicodrama em Seleção e Avaliação

O desafio de selecionar e avaliar pessoas no cenário atual:




É vivenciado atualmente o questionamento de qual é a melhor forma de avaliar o profissional mais adequado para determinada função na organização.
Este questionamento ocorre num tempo em que vários instrumentos avaliativos, como testes psicológicos, tiveram sua eficácia questionada e muitos deles foram eliminados das baterias de avaliação pelo Conselho Federal de Psicologia, fica a lacuna: como perceber e avaliar com segurança os comportamentos esperados num profissional para determinado contexto de atuação? Que impacto essa avaliação tem no profissional avaliado? Como criar um processo favorável às partes, no sentido de garantir ética, efetividade e imparcialidade? Qual o perfil ideal do avaliador?
Verifica-se que as organizações estão utilizando instrumentos virtuais: testes on line, entrevistas on line, inventário on line, etc, para avaliar seus futuros colaboradores. Estes instrumentos trazem uma imagem positiva, com seus gráficos de avaliação apontando várias informações, características e perfis dos avaliados, concomitante representa economia financeira pelo baixo custo.
As utilizações destas ferramentas geram uma onda “consumir / formatar / padronizar”, já o ser humano segue outra necessidade. Ele continua necessitando de nove meses para ser gerado e lançado ao mundo, continua levando quarenta anos para ter quarenta anos cronológicos, sem considerar as idades biológicas, psíquica e emocional, que muitas vezes estão distantes ou divergentes num mesmo ser.
Um processo seletivo deve seguramente conter oportunidades presenciais que permitem sentir, tocar, perceber, captar, compartilhar e analisar as facetas do profissional.
O Jogo Dramático é um instrumento que possibilita avaliar e desenvolver o grau de espontaneidade e criatividade dos indivíduos, através de suas características, estado de ânimo e emoções.

Fonte: Beatriz Flecha, Pontes do Psicodrama. Belo Horizonte: 2007.

terça-feira, 17 de março de 2015

PSICODRAMA EMPRESARIAL




Qualquer paradigma é relativo e não pode ser considerado a verdade sobre a realidade. Conscientizar-se da visão de mundo é fundamental no processo de evolução e em momentos de mudança de paradigma. Mudar significa transformar a forma de pensar, desenvolver uma nova visão, porque não se pode aplicar muitas das soluções tradicionais para a complexidade dos problemas que surgem com mudanças.


O que é Psicodramatizar?


Psicodramatizar é utilizar a metodologia de investigação e intervenção criada por Moreno e os procedimentos e técnicas fundamentados no referencial teórico do Psicodrama.
No contexto empresarial, O Psicodrama objetiva o desenvolvimento de pessoas, dos grupos e equipes e da própria organização e apóia-se basicamente na teoria da espontaneidade e criatividade e na teoria dos papéis. Utiliza-se de todos os recursos, técnicas, etapas e instrumentos da metodologia própria do Psicodrama.
O objetivo é desenvolver a competência interpessoal e o desempenho do papel profissional em toda sua potencialidade e plenitude. Em relação a este, visa tornar as pessoas mais sensíveis ao próprio funcionamento, às modalidades de comportamento e ao desempenho e aperfeiçoamento dos seus papéis profissionais. O resultado é promover o desenvolvimento da capacidade espontânea e criativa das pessoas, o que às levará a descobrir e adotar novas formas de atuação.
Desenvolvimento de Equipe propicia aos grupos se tornarem equipes, desenvolvendo dois tipos de comportamentos: dirigidos à produtividade, ao desempenho e dirigidos ao bem estar nas relações. O resultado é o aprimoramento do comportamento produtivo da equipe de trabalho e o desenvolvimento da competência interpessoal.
Jogos e técnicas Psicodramáticas são recursos valiosos para atingir os seus objetivos e, além da utilização dos existentes, é interessante também criar ou adaptá-los às necessidades especificas de cada grupo e a filosofia de cada empresa.
Os Jogos Dramáticos a serem realizados são escolhidos ou criados em função de situações específicas da empresa ou daqueles que são comuns à ela e que necessitam de desenvolvimento e aperfeiçoamento.


Em síntese o Psicodrama Empresarial é aplicado em situações de trabalho organizacional, com enfoque no desempenho e desenvolvimento dos papeis profissionais.

Dentro dos benefícios alcançados com a utilização do Psicodrama Empresarial, podemos assinalar:

  • ·         Tomada de consciência do desempenho;
  • ·         Aperfeiçoamento do desempenho profissional;
  • ·         Adoção de novas formas de trabalho;
  • ·         Satisfação no trabalho;
  • ·         Alcance dos resultados organizacionais.


Por que Psicodramatizar?


O Psicodrama Empresarial é um recurso que favorece a expressão das emoções, une as pessoas numa emoção comum, cria vínculo psicológico, o que gera melhoria nas relações interpessoais. Promove o surgimento da espontaneidade e criatividade, fatores essenciais para a mudança de paradigmas. Facilita que as pessoas tomem consciência de como estão desenvolvendo os seus papéis e os aperfeiçoem. Desenvolve o pensamento crítico em relação às conservas culturais ou paradigmas ultrapassados que não dão respostas às atuais questões nem à realidade empresarial / organizacional em permanente evolução e transformação.

Dentro das aplicações, podemos assinalar:
  • ·         Diagnostico organizacional;
  • ·         Treinamento e desempenho;
  • ·         Avaliação e acompanhamento.



Em síntese o Psicodrama Empresarial, ao proporcionar uma ação transformadora pode contribuir de maneira excepcional para o sucesso e excelência das empresas e organizações. 

Como Psicodramatizar?

O Psicodrama Empresarial é realizado de forma estruturada, ou seja, os temas são definidos e trazidos pelo psicodramatista e, no processamento, aquilo que foi vivenciado, é correlacionado às aprendizagens obtidas.
É utilizado como um dos recursos instrucionais de Treinamento e Desenvolvimento e de modo geral, precede um debate e exposição do tema a que se refere.



Fonte: Thelma M. Teixeira, Psicodrama Empresarial. Belo Horizonte: Santa Clara 2008.

segunda-feira, 16 de março de 2015

O OLHAR DO PSICODRAMA NA "VISÃO DA COMPLEXIDADE DAS ORGANIZAÇÕES"




 Teoria da Complexidade:


“Estamos vivendo uma revolução de modelos científicos e isso desestabiliza nossos modelos mentais e gera forte resistência às mudanças

 (Oliveira, 2003, p:12).


A teoria da complexidade nos diz que no universo tudo é evolução e a ordem é provisória, que todos os fenômenos são interligados e que nos fenômenos complexos não existem determinismo: tudo é imprevisível e que vivemos a era das incertezas.
As organizações são complexas e paradoxais, tendo como um dos pontos mais importantes a comunicação. Estamos na era da impermanência e imprevisibilidade, nada esta definido, os paradigmas se alteraram para: instabilidade, casualidade não linear, ruptura, caos e desequilíbrio.

As três grandes dificuldades das organizações para se adaptar a este novo contexto são:
·         A resistência natural de mudanças dos hábitos tradicionais.
·         O desconhecimento da teoria da complexidade.
·         E a inútil polêmica dualista de um e outro (mecanismo ou complexidade).

A chave do sucesso nas organizações, esta centrada na gestão adequada das mudanças e nas pessoas, estas são as ferramentas que devem ser trabalhadas para a organização se tornar mais competitiva.

Com o advento dos estudos da Inteligência Emocional, da Teoria Sistêmica e da Teoria da Complexidade, surgiu uma tendência em muitas empresas de reverterem seu paradigma, valorizando o quociente emocional tanto quanto o quociente intelectual. As pessoas passaram a ser valorizadas e vistas como seres complexos, em perfeita evolução e capazes de criar, inovar e atingir resultados organizacionais, desde que lhe sejam dadas as condições para desenvolver todo o seu potencial intelectual e emocional e suas competências.

As relações interpessoais saudáveis ganharam destaque nas empresas, assim como o trabalho em equipe constituindo-se em fatores de excelência organizacional.



Fonte: Thelma M. Teixeira, Psicodrama Empresarial. Belo Horizonte: Santa Clara 2008.

sexta-feira, 13 de março de 2015

O OLHAR PSICODRAMÁTICO NA "VISÃO SISTÊMICA DAS ORGANIZAÇÕES"




“No palco da vida somos atores de uma peça cujo roteiro desconhecemos”
                                                                                                   David Bohn

Segundo Zerka, Moreno acreditava que as organizações deveriam utilizar a sociometria para formar suas equipes de trabalho. Assim as pessoas, podendo escolher com quem trabalhar, estariam mais satisfeitas, integradas e produziriam melhor. Mas que isso não aconteceria quase nunca.
Realmente esta é uma realidade que ainda esta distante dos tempos atuais, mas, ainda existem mecanismos que podem ajudar a manter um clima organizacional sadio e produtivo.
O Psicodrama Empresarial nos apresenta algumas teorias e práticas, que utilizadas podem gerar bons resultados.

>> Visão Sistêmica das Organizações:

As organizações como máquinas são planejadas e administradas a partir de partes que se interligam, cada uma desempenhando um papel claramente definido no funcionamento do todo.
As organizações como organismo focam a atenção em compreender e administrar as necessidades organizacionais e suas relações com o ambiente.
As organizações como cérebros consideram a importância do processamento de informações, aprendizagem e inteligência e a questão da flexibilidade e inovação.
As organizações como culturas são vistas como realidades socialmente construídas onde residem idéias, valores, normas, rituais e crenças.
As organizações como sistema políticos focalizam diferentes conjuntos de interesses, conflitos e jogos de poder, moldando as atividades organizacionais.
As organizações como prisões psíquicas ressaltam a dimensão inconsciente, e consideram que as pessoas caem em armadilhas de seus próprios pensamentos, idéias e crenças ou preocupações que se originam no inconsciente, tornando-se prisioneiros controlados por este.
As organizações como fluxo e transformação residem na lógica da mudança que pode ser dialética (o fenômeno gerando o seu oposto) resultado de fluxos circulares de feedbacks positivo e negativo ou como sistemas autoprodutores.
As organizações como instrumentos de dominação focalizam os aspectos explorados da organização no qual certas pessoas impõem seus desejos sobre as outras.
Ressalta-se diferentes aspectos da organização, onde as imagens das metáforas representam pontos de referências ideais com os quais a situação encontrada pode ser comparada. As metáforas auxiliam a ver a natureza da realidade empresarial / organizacional, podendo ser usadas de maneira pratica para compreender, gerir e conceber as organizações.


Dentro das organizações tudo está ligado, a integração e interdependência das partes compõem o todo, é importante a inter face dos departamentos para gerar resultados positivos.

Fonte: Thelma M. Teixeira, Psicodrama Empresarial. Belo Horizonte: Santa Clara 2008.

quinta-feira, 12 de março de 2015

SOCIODRAMA: EXCLUSÃO X INCLUSÃO





Objetivo: Trabalhar a exclusão e inclusão, utilizando as limitações, que em muitos momentos estão dentro do nosso ambiente.
Inversão de papel, onde o ignorado é o dito “Normal”.
Ex: Mudança do espaço físico do curso, onde teremos que nos habitar às novas instalações.

Material: Tambor, bala doce, papel celofane, tinta, papel para pintura, pincel, música, som, rosa, caleidoscópio, ralador, alecrim, geléia, cubos de gelo, bacia, apito,incenso, vinagre, bala ardida, corneta, flauta,limão, sal, chocolate, venda, fita, tampão de ouvido, cajado e ou bengala, vidro para colocar a tinta.


Duração: 60 min.

Número de Participantes: 20 (alunos da truma X – Pós Psicodrama).

Aquecimentos:

>> Aquecimento Inespecífico:
       Explorando os cinco sentidos humanos: tato, visão, paladar, olfato e audição.

*  Montamos o cenário com o material.
Os mesmos são colocados em vários pontos da sala, todos remetem a utilização de um ou mais dos sentidos humanos.

*  Convidamos o Grupo a entrar na sala e individualmente se relacionar com os objetos, dando a consigna que os mesmo estão relacionados a um ou mais dos sentidos humanos. 5 min

* Solicitamos que cada participante escolha um objeto, após forma-se  duplas, dando consigna que terão que conversar sobre o objeto escolhendo um dos sentidos humanos que o mesmo retrata e o que este sentido significa para ele. 5 min

4-   Perguntamos se alguém quer trocar de objeto, caso sim, aguardamos a troca e dividimos o grupo em subgrupo continuando com a processo, desta vez eles só poderão que relacionar com o objeto utilizando o sentido humano escolhido. 5 min

>> Aquecimento Especifico:
·         Fazendo arte.

*   Posicionamos o grupo em roda.

*    Formamos subgrupos com 04 participantes, utilizando a técnica de contagem: (1,2,3,4 um grupo) (1,2,3,4 um grupo).

*  Após os grupos montados, os egos e diretor deverão prepará-los, sendo que dentro de cada grupo terá que existir:
- Um surdo e mudo; (iremos colocar tampão de ouvido e fita na          boca)
- Um cego; (fita nos olhos)
- Um paralitico motor; (amarrar o corpo com fita)
- Um normal;

*  Com os grupos já preparados, damos a consigna que cada grupo deverá produzir uma arte utilizando as tintas.
Observando que os mesmos deverão realizá-la em grupo, respeitando as limitações das deficiências de cada um. 15min

Dramatização:

*   Convidamos os “Normais” de cada grupo a se retirarem da sala.

*   Damos a consigna aos subgrupos que ficaram na sala que deverão pensar em um tema de uma cena cotidiana onde os normais irão tentar ajudá-los.

* Realiza se uma sociomentria onde escolhemos a cena.

* Informamos ao grupo dos deficientes que irão produzir a cena que eles deverão ignorar a presença do normal.


*   Informamos ao “Normal” do grupo, que esta sendo realizada a cena que ele terá que entrar na cena tentando se relacionar e ajudar os deficientes.

Compartilhar:
·          O grupo se reúne em roda e compartilha a experiência vivida.

Processamento:

·         É realizado o processamento da cena realizada com a teoria.

quarta-feira, 11 de março de 2015

EXCLUSÃO / INCLUSÃO NA VIDA E OBRA DE J.L. MORENO



“O conceito de Encontro, um dos principais eixos da filosofia Moreniana, poderia também ser definido como a possibilidade de estar totalmente incluído no outro ou no outro lado da relação”.

A luta pela inclusão social é marcada na vida de Moreno, o inspirando a alguns conceitos teóricos e procedimentos técnicos do Sócio- Psicodrama.

Entre as ações realizadas por Moreno pela Inclusão Social destacamos:

>> Casa do Encontro e Religião do Encontro:

Nos anos anteriores a I Guerra Mundial, a Áustria vivia um período de instabilidade política e econômica, que gerou um enorme número de pessoas chegando a Viena em busca de melhores condições de vida. O objetivo de Moreno e seus amigos era dar abrigo e facilitar a obtenção de documentos e vistos de trabalho para essas pessoas. Após o jantar coordenavam reuniões nas quais os problemas eram levantados e os ressentimentos desfeitos. Depois disso cantavam e dançavam.
“Participar desses encontros era uma experiência religiosa, algo muito alegre...” (Moreno, 1997, p.57)
 “Usando os métodos da sociometria, ainda que em forma muito primitiva , transferi famílias de lugar, na base de suas afinidades mútuas. Assim o trabalho básico pelo qual a comunidade estava organizada foi mudado para melhor. Minha teoria foi apoiada pelo fato de que, quando as pessoas puderem viver com aquelas por quem estavam positivamente atraídas, tendiam a ser cooperativas entre si e os sinais de desajustamento diminuíram tanto em número como em intensidade” (p.81)
Essas reuniões foram os modelos dos grupos de encontro que se espalharam mais tarde pelo mundo. Em seguida Moreno estendeu este método de terapia a um dos grupos mais problemáticos da sociedade: o das prostitutas. Assim elas puderam ajudar-se mutuamente. Conseguiram advogados para defendê-las e médicos para as tratar.

>> Meninas infratoras da Escola para Educação de Moças do Estado de Nova York:

Moreno estuda 505 moças com idade entre 12 e 18 anos, a partir dos resultados do teste sociométrico, uma unidade social composta por 05 jovens, Elsa chama atenção de Moreno, por apresentar uma posição afetiva de grave exclusão social. As quatro meninas escolhidas positivamente por Elsa em sua própria casa (a comunidade era dividida em 16 casas de moradia),rejeitavam – na, assim como outras 27 colegas, 12 de sua própria casa e 15 de fora. Moreno estuda os motivos das escolhas de Elsa e das outras envolvidas, trabalha para aumentar o volume inicial de seus contactos na comunidade, aumentando suas possibilidades relacionais: lança mão de procedimentos de role-playing e o teste de espontaneidade, com o objetivo de facilitar a fluência espontânea e o aumento do coeficiente télico da rede relacional em questão. Compreende-se então que a exclusão de Elsa, assim como suas atitudes trasgressoras (mentiras, roubos, etc), não decorrem somente de suas intrínsecas dificuldades relacionais, mas também da forma como a dinâmica relacional da sua moradia interage com ela. Elsa é sistematicamente marginalizada e desamparada pelo grupo. A estabilidade emocional do indivíduo está relacionada ao seu status sociométrico grupal. Os membros isolados e periféricos seriam mais suscetíveis de adoecer.
Finalmente, Elsa, excluída da casa 08, consegue inclusão na casa 13.

>>Incluindo a Loucura:


“Caso Mary”
Oficialmente denominado Tratamento psicodramático de uma paranóia, ele realiza no sentido de re-incluir socialmente sua paciente. Durante 51 sessões realizadas no decorrer de 10 meses, Moreno trata Mary, uma jovem de 23 anos adoecera há 03. Desenvolveu um delírio em relação a um homem, John, que supostamente vira em uma festa de Natal. Passa a procurá-lo de maneira obcecada e descontrolada pelas ruas e cidades. Seu comportamento bizarro chama a atenção da polícia que a  conduz a um hospital psiquiátrico.
A partir de entrevista com a família, Moreno estrutura uma cuidadosa estratégica terapêutica que obedece a três fases: realização, substituição e análise do delírio.
A família é orientada para mudar de comportamento em relação a Mary e aceitar a realidade da psicose participando da busca de Jonh. Moreno expande o contexto dramático para a clínica e para a vida, recebendo-a e comunicando que tem um telegrama de Jonh para ela. O telegrama comunica que ele esta se apresentado a uma junta de alistamento militar, mas que ele encontrará com ela em dois dias William, um ego auxiliar profissional, também é apresentado como sendo um amigo de John. Há uma “troca” de correspondência entre Mary e John preparada pela equipe terapêutica. A partir deste contexto é realizada várias cenas até que após vá estágios do processo terapêutico, Mary é informada que Jonh faleceu no front. Mary tem uma crise, permanece inaccessível durante algum tempo elaborando seu luto. Seguem-se algumas sessões em que através da técnica do espelho pode ver-se representada por um duplo. O mundo transferencial vai sendo substituído, pouco a pouco, pelo mundo télico. Começa a fazer a distinção entre os médicos e enfermeiros (egos auxiliares) do mundo real com os personagens que eles desempenham no cenário psicodramático. Em uma dramatização em que o terapeuta contracena com suas irmãs a verdade é revelada: John nunca existiu salvo na imaginação da paciente. Mary salta da platéia para o palco tentando agredir o médico. Passado o ímpeto agressivo, pede desculpas e se sente preparada para prosseguir o trabalho com cenas baseadas na diluição de seus delírios e alucinações. Quinze anos depois Mary continua a conviver com suas duas dramatis personae, mas uma não interfere na outra. Encontrou um companheiro que complementa essa dualidade. Às vezes, conversa com seus personagens fictícios, porém, se alguém se aproxima, interrompe o diálogo interior e explica que acabou de ter, em pensamento, uma conversa com alguém. Realiza bem o caminho entre fantasia e realidade. Esta vida dupla não a impede de desempenhar os papéis de
dona de casa, mãe (seu filho chama-se John) e esposa. Suas tendências anteriores ao isolamento e a inadequação, doentias, apresentam agora um aspecto normal. Questionada por Moreno pelo fato de não tê-lo visitado, responde que não é necessário, pois “você se tornou uma parte de mim mesma e eu converso com você em sua ausência”. O eu psicótico foi re-incluído aos outros “eus parciais”. Segundo Moreno (1974):

 >> Assembléia da Fundação da IAGP ( Internacional Association of Group Pschotherapy):

Em Agosto de 1973, no Grand Hotel Dolder, em Zurich, nove meses antes de sua morte, Moreno concretiza seu último ato de inclusão. Preside a assembléia de fundação da IAGP (International Association of Group Psychotherapy), instituição que promove a inclusão de todos os terapeutas de grupo do mundo, sem distinção de linhas ou escolas. Lá, estão reunidos psicodramatistas, grupoanalistas, gestaltistas, psiquiatras, psicólogos, pedagogos, religiosos, enfim, todos aqueles
que se dedicam ao trabalho com grupos. Grete Leutz (2004), sua amiga e seguidora, descreve:
“Moreno sitting at the head of a long table, presided the assembly: at least twelve persons sat by his side. Facing the afternoon sun, he did not speak much, but smiling benevolently, he was very present and appeared satisfied”. (p. 164)
Moreno (1973) escreve então uma pequena nota dizendo que realizara “one of the major goals I have been trying to attain since 1951” (p. 131). Ele manifestava a sensação de missão cumprida. Seu sorriso, presença e satisfação, tão poeticamente descritos por Grete Leutz, representaram seu adeus à nossa comunidade.

Fonte:

Apostila: Inclusão, Celebrando as Diferenças / Prof(a) Valéria Vilela