Juventude, sexualidade e Relações de Gêneros
Gênero: A palavra gênero designa as várias possibilidades
construtivas dentro de uma cultura especifica de nos reconhecermos como homens
e mulheres. Assim, ser homem e mulher pode variar sensivelmente dependendo da
época, do lugar e ainda dos valores sociais que norteiam as interações dos
indivíduos em dada sociedade.
A
condição juvenil também se expressa numa perspectiva de gênero, visto que os
meninos e as meninas são interpelados a se afirmar como homens e mulheres ao
incorporar atributos considerados masculinos ou femininos na cultura em que
vivem.
É vivido
no contexto social situações que nos impõem uma separação de gêneros que nos
leva ao questionamento:
Por que
os homens devem ter pelos e mulheres não? Por que apenas as mães são agraciadas
por um programa de gestação? Homens não têm nenhuma participação na fecundação
e cuidado com a criança? Por que as mães são (os) usuários do SUS? Sendo
mulheres usuárias, por que afirmar que são usuários? E por que a Barbi nessa
versão é fada, esta de cor rosa com varinha de condão e minissaia? Que padrão
de feminilidade a gente está veiculando quando dá de presente essa boneca e
apresenta esse modelo de mulher para as meninas?
Chama
nossa atenção o modo como esse tipo de mensagem, que força determinados
entendimentos sobre ser homem e o ser mulher, muitas vezes passa despercebido
para a maioria das pessoas. Muitas pessoas vêem essas imagens e nem percebem
que estão sendo educadas através delas sobre o que se espera em uma cultura
sobre o ser homem e o ser mulher.
Ao longo
da Historia, diferentes comportamentos e posturas foram tidos como adequados ou
esperados de homens e mulheres. Algumas justificativas para essas expectativas
se baseiam exclusivamente em questões biológicas. Por exemplo, como quem tem
útero é que gera uma criança, já foi dito que a responsabilidade com seu
cuidado seriam exclusivamente da mulher. Porém, temos noticias de culturas em
que os homens cuidam das crianças recém – nascidas, enquanto mulheres fazem
outras atividades, Contemporaneamente, cada vez mais tem sido afirmado o desejo
e capacidade de homens de exercerem atividades ao cuidado e ao afeto.
Diferenças e desigualdades: Discutir relações de gênero não se reduz ao
biológico; mas é pensar e questionar as relações de poder. Nossa sociedade
costuma produzir discursos e situações que hierarquizam diferenças,
transformando essas diferenças sem desigualdade. Você já pensou nisso? Somos
todos diferentes e isso é fato. Porém, há uma construção muitas vezes invisível
que determina que um pólo dessa diferença seja bom e o outro seja ruim.
Conceituando e problematizando: Sexo, Gênero, Sexualidade:
Exemplificando
uma distinção entre sexo e gênero: quando uma pessoa grávida faz ultrassom e o
medico fala “é uma menina”, em que ele está se baseando? Ele está se baseando
em uma característica biológica que é possível perceber no exame. Essa
característica biológica é o sexo. A família desta criança vai pra casa e
começa a comprar o enxoval com as cores rosa, lilás e por ai adiante. Neste momento,
em que se associam cores e padrões ao sexo biologicamente dado, estamos falando
de uma questão cultural e social, ou seja, de relações de gênero. Pode–se
dizer, de maneira simplificada, que o sexo é biológico e o gênero é cultural e
social. Tratando-se portanto, de duas coisas distintas e não apenas de uma só,
porém intimamente interligadas. Existem diferentes padrões associados a ser
homem e mulher, esses padrões culturais hierarquizados em uma escala em que se
linearizam características masculinas e femininas em que um é o espelho
negativo do outro.
Ao
construir este espelho de opostos das características de homens e mulheres, se
cria uma polaridade em que o prestigio e o poder são associados ao masculino.
Isso é o sexismo. O sexismo se baseia no binarismo de gênero, a partir do qual
se estabelecem dois pólos nos quais se hierarquizam características opostas:
atribuindo-se poder e prestigio a um dos pólos, enquanto ao outro pólo se
confere características tradicionais desvalorizadas.
Assim,
espera-se que mulheres dóceis e maternas sirvam a homens viris e arrojados:
esposas aos seus maridos, filhas aos pais, namoradas aos seus namorados,
empregados aos seus patrões.
Muita
coisa já mudou graças à luta de muitas mulheres que se engajaram nos movimentos
sociais, especialmente o movimento feminista. Entretanto, ainda há muito a ser
feito. Se vocês observarem a relação entre seus jovens Alunos e alunas vão
perceber o sexismo aparecendo e vão observar como o binarismo de gênero é
perpetuo.
Abordando
a sexualidade, espera-se que uma menina ensinada a ser dócil só se apaixone por
meninos. Há na nossa cultura uma expectativa de que aconteça uma
correspondência entre sexo-gênero- desejo. Entretanto, isso não acontece de
forma linear. Existem várias pessoas que se posicionam de outras formas nessa
linha que liga o sexo ao gênero e ao desejo.
É preciso
refletir que o sexo biológico de uma pessoa não necessariamente vai definir
como ela se posiciona socialmente em relação ao gênero.
A
expectativa social é que quem tem pênis deva se reconhecer como homem e
direcionar os seus afetos para uma mulher. Porém existem pessoas que se
reconhecem de maneiras distintas.
Existe
mulher que gosta de outra mulher, com uma orientação sexual homossexual. Nosso
desejo sexual e nossos afetos podem ser mobilizados por pessoas de outro sexo,
do mesmo sexo ou dos dois sexos. Dependendo de como o nosso desejo se mobiliza
dizemos que somos heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. A sociedade
costuma legitimar apenas as relações heterossexuais, porém, cada vez mais tem
sido possível enxergar outras possibilidades no campo da sexualidade com menos
preconceito.
Homofobia, Sexismo e Violência nas Escolas:
Tudo que
foi abordado neste texto tem um impacto direto sobre as praticas na escola.
Professores
desejam um padrão de estudante. Querem que todos aprendam do mesmo jeito e ao
mesmo tempo, querem que todos se comportem da mesma maneira, querem um formato
único de aluno. Porém, essa expectativa nega algo que é inerente a condição
humana: a diferença.
Entender
a diferença como algo do humano reposiciona atitudes. Sai do discurso de “tolerância”
ou “respeito” para o entendimento que a diferença constitui a realidade. Dessa
forma as intervenções partem de um pressuposto: existe uma diferença a ser
respeitada por alguém que está em um outro lado, o lado dos iguais.
Se nossa
sociedade considerasse a diferença como um direito de todos, não seria preciso
se criar estratégias de proteção ou campanhas educativas para respeitar aqueles
grupos que têm menos privilegio social e são considerados “os diferentes”. A
escola pode contribuir no processo de educação para o direito a diferença.
Tratar
dessa questão é um desafio para a escola que muitas vezes crê que os discursos
do respeito e da tolerância vão resolver a questão.
Porém,
apenas discutir o respeito e tolerância, sem ações concretas de proteção que os
materializem, não são suficientes. Há demandas concretas de proteção e inclusão
a serem feitas. Além disso, é preciso que a escola promova a diferença como um
direito como um fato constituído da realidade.
A escola
não pode lavar as mãos frente ao sexismo e à homofobia. É preciso
desnaturalizar as desigualdades de
gênero e combater a heteronormatividade.
Muitos professores (as) têm receio de se
engajar nessa luta por suas convicções pessoais. É necessário, entender esse
engajamento como parte da profissão de educadores e levar em consideração que a
omissão da escola e a ausência dessa temática
no currículo podem vir a trazer conseqüências danosas algumas delas até irreversíveis.
Fonte: Juventude, Sexualidade e
Relação de Gênero – Anna Cláudia e Paulo Henrique.
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